Certa noite, eu acordei assustado com a voz de uma criança vinda de um alto-falante. O som era muito alto, e eu não conseguia entender, mas a frase foi repetida várias e várias vezes. Fiquei a noite toda acordado, ouvindo vozes de outras crianças. Descobri que o som vinha da mesquita próxima de nossa casa. Estávamos no país há dois meses servindo ao Senhor como missionários, mas nunca tínhamos ouvido os alto-falantes tão alto.
No dia seguinte, cansado e com uma angústia esquisita no peito, procurei saber o significado daquela vigília e descobri que tinha sido a Noite do Decreto, ou Noite do Poder (Laylat al-Qadr), que segundo a tradição islâmica, foi a noite em que Alá falou com Maomé pela primeira vez.
A noite do decreto acontece da 26ª para a 27ª noite do Ramadã e é tradição as pessoas passarem a noite na mesquita rezando e recitando o Alcorão, pois acreditam que as orações feitas na vigília têm um peso maior:
“Por certo, fizemo-lo descer na noite do Decreto. E o que te faz inteirar-te do que é a noite do Decreto? A noite do Decreto é melhor do que 1000 meses. Nela descem os anjos e o Espírito, com a permissão do seu Senhor, encarregados de toda ordem. Paz é ela, até o nascer da aurora” (Alcorão 97. 1-3).
Eles passam a noite em oração, pois não sabem a hora nem o momento em que os céus serão abertos, os pecados serão perdoados e as bênçãos serão concedidas àquele que estiver em oração.
Descobri também que o que as crianças estavam recitando era a shahada: confissão de fé islâmica que declara que "Não há Deus senão Alá, e Maomé é o seu mensageiro" (“L? 'ilaha 'ill?l-l?h an Muhammadur ras?«lu ll?hi”).
Não foi uma noite fácil; aliás, aquele mês não foi fácil para nós. Além dessa experiência, tivemos que conviver com todo o estresse que envolve esse período, que supostamente é um tempo de paz e tranquilidade, já que as pessoas estão jejuando, buscando ser mais corretas em suas ações, mais religiosas e caridosas.
Era para terem mais paz em seus corações, porém boa parte da população fica bastante nervosa; os taxistas ficam bem irritados por não poderem comer nem fumar e é comum ocorrer acidentes de trânsito, pois os motoristas comem à noite, no horário permitido, e depois dormem ao volante. Há uma opressão espiritual terrível durante todo o Ramadã.
Apesar das dificuldades, essa sempre foi uma das épocas mais oportunas para compartilhar a nossa fé em Jesus, pois as pessoas estão voltadas para a religião, e um dos propósitos que eles têm é o de compartilhar a sua fé. Portanto, tivemos inúmeras oportunidades para respondermos sobre a esperança que há em Jesus, até mesmo com os estressados taxistas.
Em uma visita à casa de amigos, um vizinho deles também estava lá. Ele logo quis saber se eu era muçulmano e falou a respeito de sua fé; pudemos confrontá-lo com as verdades do que cremos.
Conhecemos muitas histórias de pessoas que se converteram no período do Ramadã, especialmente na noite do Decreto. Um professor que trabalhava na mesma escola que eu compartilhou a fé em Cristo com um vizinho. Este homem viajou para o Egito e, na noite do Decreto, incomodado pelas palavras do meu amigo, pediu a Deus que lhe mostrasse se o que ele havia escutado era verdade.
Na mesma noite, ele teve um sonho. Um homem apareceu e disse-lhe que fosse a um lugar no dia seguinte. Deu-lhe a hora e o endereço. Quando acordou, foi procurar o endereço que recebeu no sonho. Ao chegar ao lugar, bateu na porta, e alguém muito simpático veio lhe atender percebendo que não era egípcio. Ele contou o que acontecera durante a noite, o homem, então, convidou-o a entrar. Era uma reunião de crentes, todos vindos do islamismo que estavam naquela casa para orar e estudar a Bíblia.
Naquele mesmo dia, este homem ligou para o amigo que havia compartilhado sobre Jesus, e contou muito empolgado ao telefone: “Eu encontrei Issa! Eu encontrei Issa!” (Issa é o nome dado a Jesus no Alcorão). Hoje ele é mais um que segue ao Senhor e faz parte da igreja sofredora.
Meu desafio para você, leitor, é que intensifique suas orações pelos muçulmanos de diversos lugares do mundo, para que tenham um encontro verdadeiro com Deus, e que aquilo que eles tanto buscam em vão em sua religião seja revelado a eles nesse período.
Quem sabe você possa também dedicar um dia, uma semana ou, quem sabe, o mês inteiro para também jejuar em prol dessa causa? Ore também para que nossos irmãos que vivem em países de maioria islâmica sejam revestidos de poder e ousadia para testemunhar em cada oportunidade que surgir e que Deus os proteja de todo o perigo e risco que possam correr.
Jessé
coordenador JMM para Oriente Médio e Norte da África